quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

PARUA LEVE



Foi estranho me ver naquele quarto novo. Um que nunca quis me ver inteiro, ali na frente daquele espelho mais parecia um boneco que minha imaginação criara. Senti determinado momento como se algo me manipulasse. Meu sorriso na frente do espelho, passando a mão na face para sentir a pele após o corte rente que a máquina proporcionara.
Qual foi o motivo pelo qual eu ainda adolescente resolvi raspar a minha cara pela primeira vez com um cortador?
Me senti estranho ao sair daquele jeito do banheiro, cheio de gestos "nobres" e um roupão quente e grosso que me fez suar em pleno verão, mesmo após o banho.
Fumei meu cigarro, um trago profundo, um olhar para o nada. Me senti diferente. Era o único no meu momento.
Coloquei o café da manhã na mesa. Alimentei os cachorros. Dei água, carinho e me troquei. Servi dois cafés puros. Sem açúcar. Um pão com requeijão e o outro com manteiga. Para o arranjo central da mesa, algumas flores do campo. Poucas cores. Mas diferenciadas. Nossa toalha de mesa em tom pastel, as paredes num tom terra bem ameno.
Era tudo quase que perfeito.
Mas faltava ali minha presença.
Não era eu.
Não eram minhas escolhas.
Não éramos nós.
Acordei estávamos no metrô caminho longo e difícil até o trabalho. Daí em diante vocês já sabem a história. Suor, tensão, pretensão, raiva, cerveja, cigarro, relaxamento e sonho.

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