sexta-feira, 12 de julho de 2013

CHEIROS






CHEIROS I
Que ela cheire as rosas sobre a mesa todo dia e lembre de mim.
Que ela ouça a música de Thelonious Monk e se lembre de mim.
Que os meus passos e a pele do meu pé que fricciona com a realidade
lembrem-se que estou ali junto dela e o peito se lembre, o amor anda junto com aqueles passos mesmo distante de você.

É assim que quero sempre lembrar e é assim que quero sempre seguir.
Que fizemos passos juntos e que me aqueço só com a sua lembrança.


CHEIROS II

Bem me cheira
Já não sabe bem o que sinto

Já bem cheira
Meu bem não sabe onde passei

Beija bem e me cheira
Já conhece o que se passou

Fui amante, amigo, júri e pedante.
Bem me chega sou pedinte deste amor

Bem me seja amor conquista
Sou um molambo do teu olor.
Bem te cheira a rosas crespas
O que é feito deste amor?


CHEIRO III

Infestada de ti o rastro teu nesta cidade
Meu guia não é mais o que se gastou
Meu erro é a perda
Me perfaz o ardor
Do dia em que bem faceira
Ficou surda em rubor

CHEIRO IV

Voltamos para o lar
Nem sapiência nem estupor
Na calma crua e lenta
É feito assim também o nosso ardor
Seja no laço que nos une
Seja no semblante em sombra na noite calor
É de efeito firme e redundante
A celeuma em que se recomeça nosso amor.

CHEIRO V

No lençol da cama avessa
Criva em mim o passado
Escovo a dor como se cria o aço
Da minha pena ao teu louvor.
Não falo por mim um pobre diabo
Falo por nós e por nosso andor
Que a fantasia seja plena
É de carne e osso nosso esplendor.


Cheira a céu meu avental onde invento os meus versos
Mesmo perecendo um eu perverso um que cria pode criar a dor.

Não me parece mal a figura de um deus
Se o final um mais um é um eu.
Que nos acostumemos a esse caminho do espinho a rosa flor.


Tiago Felipe Viegas Carneiro  13/07/2013

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