CHEIROS
I
Que ela cheire
as rosas sobre a mesa todo dia e lembre de mim.
Que ela ouça a
música de Thelonious Monk e se lembre de mim.
Que os meus
passos e a pele do meu pé que fricciona com a realidade
lembrem-se que
estou ali junto dela e o peito se lembre, o amor anda junto com aqueles passos
mesmo distante de você.
É assim que
quero sempre lembrar e é assim que quero sempre seguir.
Que fizemos
passos juntos e que me aqueço só com a sua lembrança.
CHEIROS
II
Bem me cheira
Já não sabe
bem o que sinto
Já bem cheira
Meu bem não
sabe onde passei
Beija bem e me
cheira
Já conhece o
que se passou
Fui amante,
amigo, júri e pedante.
Bem me chega
sou pedinte deste amor
Bem me seja
amor conquista
Sou um molambo
do teu olor.
Bem te cheira
a rosas crespas
O que é feito
deste amor?
CHEIRO
III
Infestada de
ti o rastro teu nesta cidade
Meu guia não é
mais o que se gastou
Meu erro é a
perda
Me perfaz o
ardor
Do dia em que
bem faceira
Ficou surda em
rubor
CHEIRO
IV
Voltamos para
o lar
Nem sapiência
nem estupor
Na calma crua
e lenta
É feito assim
também o nosso ardor
Seja no laço
que nos une
Seja no
semblante em sombra na noite calor
É de efeito
firme e redundante
A celeuma em
que se recomeça nosso amor.
CHEIRO
V
No lençol da
cama avessa
Criva em mim o
passado
Escovo a dor
como se cria o aço
Da minha pena
ao teu louvor.
Não falo por
mim um pobre diabo
Falo por nós e
por nosso andor
Que a fantasia
seja plena
É de carne e
osso nosso esplendor.
Cheira a céu
meu avental onde invento os meus versos
Mesmo perecendo
um eu perverso um que cria pode criar a dor.
Não me parece
mal a figura de um deus
Se o final um
mais um é um eu.
Que nos
acostumemos a esse caminho do espinho a rosa flor.
Tiago Felipe
Viegas Carneiro 13/07/2013
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